Em setembro, ganhei de algumas amigas, um livro chamado
“Razões para continuar vivo” de Matt Haig. Ele conta a história do próprio
autor, que enfrentou a depressão e conseguiu sair dela.
Sabe quando um livro cai “feito luva” pra você? Pois é, foi
isso que aconteceu comigo. Eu me senti conversando com alguém que passa pela
mesma situação que eu.
"Quando
a gente tem apenas depressão, a mente mergulha num pântano e o tempo se
desacelera, mas com a ansiedade misturada no coquetel, o pântano continua sendo
pântano, mas tem redemoinhos. Os monstros que lá se encontram, na água
lamacenta, se movimentam constantemente feito crocodilos mutantes, a toda
velocidade. A gente fica em guarda constante. Prestes a entrar em colapso a
qualquer momento, mas ao mesmo tempo tentando desesperadamente não afundar,
apenas para respirar o ar que as pessoas nas margens ao seu redor estão
respirando com a maior facilidade do mundo." (pág 51)
Infelizmente, quando se conta pra alguém que você sofre de
depressão, se escuta de tudo, menos o que realmente você precisa ouvir.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), um em cada
cinco pessoas tem depressão em algum momento da vida. O número de mulheres
suscetível a ter uma grave crise de depressão é o dobro de homens. O risco de
desenvolver depressão é 40% maior se um dos pais biológicos tiver tido a doença
diagnosticada.
Decidi abordar esse assunto porque eu tenho casos na família,
inclusive, perdi uma tia recentemente que sofria de depressão. E o que via o tempo
todo era muita falta de empatia, inclusive de parte da família. Eu sonho muito
com o dia em que todo mundo vai compreender que depressão não tem nada ver com
falta de Deus ou qualquer outro argumento que eu fui obrigada a escutar a minha
vida toda.
No próprio livro, Matt diz que a melhor solução pro problema
é estimular que se fale a respeito. Que a gente promova a arte de ouvir mais.
Ás vezes o que realmente falta é só o apoio familiar. De nada adianta tomar mil
medicações e as pessoas ao redor não ajudarem no tratamento.
“O
que devemos fazer então? Falar. Ouvir. Estimular que se fale. Estimular que se
ouça. Continuar contribuindo para a conversa. Ficar de olho nos que quiserem
participar da conversa. Reiterar sempre que a depressão não é algo que você tenha
que "admitir", não é algo de que você deva se envergonhar, pois é
apenas uma experiência humana. Uma experiência de meninos, meninas, homens,
mulheres, jovens, velhos, negros, brancos, gays, héteros, ricos, pobres. Não é
você. É simplesmente algo que acontece com você. E algo que muitas vezes pode
ser atenuado pela conversa. Palavras. Conforto. Apoio. Levei mais de uma década
até ser capaz de falar abertamente, adequadamente, com todo mundo, da minha
experiência. Logo viria a descobrir que o ato de falar é por si mesmo uma
terapia. Onde houver conversa, há também esperança.” (pág 68)
Todos deveriam ler esse livro, tanto
quem sofre de depressão quanto quem não. Esse livro pode ajudar você a lidar
com algum ente querido ou amigo que esteja passando por esse dilema. Graças à
medicina, hoje existem vários tratamentos e medicações pra solução do problema,
mas assim como Matt, eu ainda acredito que o remédio mais eficaz ainda é a
empatia, a solidariedade. Ao invés de apontarmos os dedos pra quem sofre, estendamos
nossas mãos e os ajudemos a passar por esse momento.